É possível estruturar e produzir inovação em 90 dias?

Faculdade de Educação Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro

É possível estruturar e produzir inovação em 90 dias?

Sim, é possível! Veja quatro passos que lhe ajudarão a organizar suas estratégias para inovar com velocidade!

Por: Roberto Coelho Jr.

Indo direto ao ponto: sim, é possível! Após experimentarmos e estudarmos diversas abordagens, notamos alguns pontos em comum e boas práticas utilizadas em empresas estabelecidas e que estão conseguindo produzir inovação de forma ágil e efetiva. Basicamente, quando a empresa não possui uma cultura inovadora em seu DNA, uma abordagem que tem tido êxito é a da criação de um SIMV (Sistema de Inovação Minimamente Viável) em 90 dias.

Um SIMV é basicamente um conjunto de pessoas, processos, tecnologias e boas práticas das Startups do Vale do Silício, que visa iniciar o processo de implementação e expansão da cultura inovadora em empresas estabelecidas de forma prática e com resultados ou aprendizados reais e efetivos em curto prazo.

Note abaixo uma sugestão de como estruturar e produzir inovação em 90 dias, na prática:

Dias 1-20

Buy in do patrocinador: um dos passos mais importantes é persuadir e encontrar um patrocinador-chave na organização. Sem isso, a iniciativa tende a ser frustrada e ineficiente.

Definição do modelo de financiamento da inovação: outra discussão relevante e que precisa ser decidida logo no início é sobre quem, como e por quanto tempo a inovação será financiada. É muito importante que um orçamento independente e específico seja criado.

Saiba o motivo pelo qual a empresa precisa inovar e escolha até duas prioridades estratégicas para começar: notamos que algumas empresas começam o processo de inovação sem saber o porquê. Saber qual é a motivação correta ajuda muito a reduzir atritos durante o processo. Depois disso, combine com o patrocinador se a iniciativa começará por um departamento específico ou pela organização como um todo. Essa decisão depende do momento da empresa, contudo, observamos um maior índice de sucesso ao se começar pequeno e em um departamento específico, como Marketing, TI ou R&D. Agora, escolha apenas uma ou duas prioridades estratégicas que precisam ser endereçadas, como por exemplo a criação de um novo produto, busca por um novo modelo de negócio ou a melhoria de um processo que busca diferenciar a empresa.

Definição do modelo de aquisição da inovação, da equipe e estrutura: há estudos que mostram que 70% da inovação vem de fora de empresas estabelecidas, sendo assim, avalie com base nas questões estratégicas se é melhor desenvolver a solução com uma equipe própria ou se é melhor promover hackatons ou se aproximar de Startups. De qualquer modo, ao menos uma pessoa será necessária para liderar a área. Se optar por produzir inovação internamente, de acordo com as boas práticas, uma equipe que produz inovação efetiva deve ter no máximo 5 pessoas e ela deve ser dedicada, autônoma e totalmente separada da operação. Busque ajuda do RH para escolher pessoas com o perfil mais adequado e de alto desempenho. Em termos de estrutura, é altamente recomendável usar a estratégia orbital, ou seja, embora seja independente, essa área de inovação deve orbitar o negócio e pousar por alguns momentos, para que todos saibam o que está sendo desenvolvido e para que seja aderente à empresa. Essa prática também ajuda na comunicação e reduz a ansiedade da organização. É recomendável que essa área esteja abaixo do CEO diretamente, sendo par das demais unidades de negócio e apoio, no entanto, no início, é comum vermos a equipe de inovação dentro da TI, Marketing ou R&D.

Dias 15-30

Alinhamento da cultura inovadora: agora que já tomamos algumas decisões e temos a equipe, o próximo passo é alinhar conhecimento, conteúdo, premissas, limitações, responsabilidades, entre outros, tanto com o time de inovação, quanto com toda empresa. Dependendo da estratégia de longo prazo, recomenda-se o início de um processo de change management para introduzir o comportamento inovador na organização.

Definição da governança, processo, softwares, objetivos, modelo, indicadores, métricas e metas: nesse passo, precisaremos ser ágeis, objetivos e pragmáticos para não perder tempo. Defina rapidamente o mínimo necessário para iniciar a operação e aprenda durante o processo. Há diversas alternativas gratuitas e de baixo custo para controlar o processo de inovação. Devemos ser extremamente criteriosos em relação aos objetivos, indicadores, métricas e metas que serão utilizadas para se determinar o sucesso das iniciativas. Isso deve ser alinhado com os stakeholders, equipe e patrocinador da área de inovação.

Dias 20 a 60

Problematização, ideação e estratégias de solução e validação: aqui é onde a diversão começa de fato. Comece por entender se o problema escolhido é realmente um problema e que deve ser endereçado nessa iniciativa. Diversos projetos de inovação falham pela falta de conhecimento claro dos problemas e dores reais de seus clientes. Após isso, é hora de captar e discutir possíveis soluções, quais priorizaremos e quais hipóteses pretendemos validar. Por exemplo, podemos inferir que as vendas em nosso site aumentarão se realizarmos uma campanha de uma semana no Google Adwords. Isso é apenas uma hipótese e ela precisa ser testada para validarmos se o resultado será mesmo positivo.

Validação do problema e da solução: em posse do problema, idéias de solução e estratégias de validação, agora precisamos arregaçar as mangas e ir para o campo. Precisamos falar com clientes internos ou externos, parceiros, fornecedores, concorrentes, etc. Precisamos aprender e afinar rapidamente os testes que estão sendo executados para validarmos ou não sua efetividade. Os resultados dessas iterações servirão de insumo contínuo para o desenvolvimento de nosso protótipo (MVP).

Dias 30 a 90

Construção/Aquisição do MVP e implementação controlada: em praticamente todos os casos, para que possamos validar as hipóteses de solução de forma rápida e com baixo custo, fazemos o uso de produtos minimamente viáveis ou MVPs (sigla em inglês). Por exemplo, antes de gastarmos milhares de reais para desenvolver um App para saber se ele será bem aceito pelas pessoas, que tal criar um protótipo real de baixo custo para testar com um mercado controlado antes? Essa abordagem nos permite refinar o produto/processo para atender aos problemas e dores latentes dos clientes. Nessa fase, recomenda-se utilizar a abordagem TALC, muito utilizada pelas empresas de tecnologia, ou seja, comece os testes com um pequeno grupo de visionários e amantes de novidade. São eles que ajudarão a refinar a sua proposta de solução.

Validação do produto/entrega e da aceitação: apenas para deixar mais claro, os processos de validação e refinamento da proposta de solução são iterativos e contínuos e não podem ser tratados como fases que começam e terminam definitivamente. Lembre-se: um dos principais objetivos no processo de inovação é aprender rápido para identificar uma proposta de valor e um modelo de negócio que são aceitos pelos clientes. Com o MVP será possível ver a reação das pessoas quando o utilizam. Aproveite esses momentos únicos e preciosos para afinar sua proposta de solução, utilizando os indicadores e métricas definidos no início do processo. Somente assim é que saberemos cientificamente se estamos no caminho certo.

Aferição dos resultados: embora o processo de inovação seja contínuo, é uma boa prática definir marcos para análise de resultados e tomada de algumas decisões. Reúna-se frequentemente com a equipe para validarem a rota.

Pivotagem ou início do Rollout: embora a pivotagem seja uma ferramenta continua e que será usada durante todo o processo, para essa abordagem específica, recomenda-se ter um ponto de decisão acerca do deployment da solução em alta escala ou não. Pivotar não significa desistir definitivamente e sim retroceder e realimentar o processo de inovação para uma mudança de curso ou abordagem de proposta de solução para o problema dos clientes. Nessa fase, a solução precisa ter sido testada com os early adopters (amantes de novidade e visionários) e aprovada.

Continuidade e expansão da cultura de inovação: independentemente se conseguimos produzir inovação em larga escala ou não, o resultado mais importante de todo esse processo é o aprendizado. Para produzirmos inovação de forma continua e efetiva, faz-se necessário continuar com os experimentos e expandir a cultura inovadora dentro da organização e para isso, recomendamos que ações que facilitam isso sejam executadas. Por exemplo, há empresas que criam uma comunidade de prática interna aberta, que visa estimular a discussão de boas práticas inovadoras de forma continua e objetiva em reuniões coordenadas de 2 horas a cada 15 dias. Independentemente da forma, a questão aqui é fazer algo para perpetuar a inovação.

Fonte: ComputerWorld.

Texto original:
http://computerworld.com.br/e-possivel-estruturar-e-produzir-inovacao-em-90-dias