O que é inovação disruptiva e como ela ainda vai afetar sua vida

Faculdade de Educação Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro

O que é inovação disruptiva e como ela ainda vai afetar sua vida

Faça essa pergunta para as operadoras de telefonia e para os bancos, que estão sendo os mais afetados, para ouvir a resposta…

Por: Cezar Taurion.

inovacao_vortex_disrupcaoO século XXI é o século das inovações transformacionais, em contraponto ao século XX, das inovações incrementais. O que isso significa? Que as inovações disruptivas serão constantes. A transformação contínua dos processos e modelos de negócio serão nosso dia a dia. E já começa a aparecer a função BTO – Business Transformation Officer em algumas empresas. No Linkedin, por exemplo, já vemos vários perfis com este título.

Mas, o que é inovação disruptiva? São inovações que introduzem novos benefícios ao mercado, como maior simplicidade e conveniência no uso, muitas vezes também ao menor custo. Estas inovações batem de frente com os produtos e serviços existentes, pois a maioria das empresas não está preparada para enfrentar modelos de negócio diferentes dos que consolidou ao longo de décadas de sucesso. Além disso, por estarem engessadas em seus modelos mentais e presas a processos que a levaram a posições sólidas, custam a perceber as mudanças no mercado, subestimando as inovações disruptivas.

Mudanças bruscas não são facilmente aceitas por empresas solidificadas em seus setores de negócio e muitas vezes, por reagirem lentamente, tentam se proteger escudando-se na legislação. As inovações disruptivas não são ilegais, simplesmente não estão reguladas, exatamente por serem disruptivas. O modelo atual de legislação simplesmente é lento demais para acompanhar um cenário de mudanças frequentes. Creio que precisamos também de rupturas no próprio modelo de criação de legislações.

Venho estudando o assunto e creio que será interessante analisar as mudanças disruptivas que já estão desafiando dois setores de negócio extremamente sólidos, que se encastelam em seus segmentos e cujos executivos (e incluo alguns dos seus CIOs) tendem a frequentarem apenas eventos específicos do setor, passando ao largo das mudanças que já estão acontecendo em outros. A desculpa é: “ meu setor é único e estou solidamente consolidado”. Falo de bancos e telecomunicações. Será que estão tão protegidos assim?

Um estudo recente da escola de negócios IMD, na Suíça, produziu um relatório muito interessante chamado “Digital Vortex”, em que coloca os setores de bancos e telecomunicações bem próximos do centro do vórtex. Que isso significa? Quanto mais próximo do epicentro das mudanças, mais suscetíveis os setores estarão da disruptura digital. Os bancos e empresas de telecomunicações estão lá, bem próximos ao epicentro! Recomendo a leitura.

Vamos primeiro abordar os bancos. Apesar dos altos investimentos em tecnologia, os bancos brasileiros têm investindo bem menos em tecnologia que seus pares nos EUA e Reino Unido, para citar um exemplo de mercados competitivos. Em 2014 investiram cerca de apenas 1/5 do investimento por cliente do efetuado pelos bancos americanos e ingleses. Claro que os mercados são diferentes e o aparato regulatório é mais rígido aqui que lá fora. Mas se percebermos que as mudanças acabam chegando a todos os lugares, quem garante que no futuro o cenário aqui também não será diverso do atual? Nos EUA já vemos inúmeras startups criando um movimento chamado de “desagregação dos bancos”. Parece heresia, mas sugiro ler o paper “Soon, You Won’t Need A Bank — Just The Services Provided By These Startups”. Outra leitura recomendada é “The Fintech 2.0 Paper: rebooting financial services”.

Vemos mudanças em diversos conceitos, como empréstimos em formato de crowdfunding, que dispensam bancos, com startups como Lending Club, Prosper Marketplace e Funding Circle nos EUA. Em tempo, entre 2009 e 2014 as startups de crowdfunding levantaram mais de 715 milhões de dólares em investimentos. Lending Club tem valor de mercado de quase sete bilhões de dólares. O espaço de startups de Bitcoin, apesar de algumas incertezas, conseguiu investimentos de mais de 400 milhões de dólares somente em 2014. Estes números mostram que alguma coisa importante está acontecendo e no mínimo não podemos ignorar o contexto.

E o setor de telecomunicações? Disrupções como Skype e WhatsApp surgiram de fora do setor. Tentar se apegar a legislações obsoletas não vai impedir a sociedade de usar estes serviços. A legislação não pode considerar que os cidadãos são de baixo nível de inteligência e sem tutela do governo, tendem a usar serviços de baixa qualidade e, portanto, precisam ser protegidos pela fiscalização. As pessoas usam WhatsApp porque ele oferece uma série de vantagens em relação ao velho SMS. Aliás, o WhatsApp pertence ao Facebook e sozinho pode valer mais de 100 bilhões de dólares. Por curiosidade, o Facebook, agora em 1 de setembro de 2015, tem um valor de mercado de 245 bilhões de dólares, que é mais que a soma do valor de mercado da Telefonica (63 bilhões), Vodafone (91 bilhões) e América Móvil (62 bilhões), para citar alguns exemplos.

Os apps são uma preocupação para as operadoras, mas é inevitável que façam parte do dia a dia da população. Aqui no Brasil os smartphones saltaram de 10 milhões em 2010 para 93 milhões agora em meados de 2015. No mundo, no final de 2014 já se estimava que eram enviados diariamente cerca de 50 bilhões de mensagens via apps contra 20 bilhões de SMS. Mas os apps ainda têm algumas desvantagens. Os dois lados precisam ter o mesmo app, pois um usuário de WhatsApp não pode enviar uma mensagem diretamente para um que tenha WeChat. Embora existam 2,3 bilhões de smartphones com capacidade de funcionar com apps, existem bilhões de celulares funcionais que só operam SMS. Também, em viagens internacionais é mais barato usar SMS que comprar pacotes de dados. Assim, nestes casos, apps como WhatsApp são usados apenas nos locais com WiFi disponíveis.

O que as operadoras deveriam fazer? Pensar fora do modelo mental e em vez de lutar contra, incentivar seu uso. Porque não expor sua rede e dados disponíveis sobre assinantes às apps, via APIs? Porque não capturar parte do valor que circula nestes apps? Criar um serviço que permita um usuário de app enviar para um aparelho funcional um SMS, atuando como intermediário do processo. Outro exemplo é incentivar o uso do pacote de dados, utilizando mais fotos e vídeos. Uma mensagem de texto de cerca de 150 caracteres demanda uns 10 Kb. Uma foto, 100 Kb e um minuto de vídeo 12 Mb. É uma mudança do modelo de negócios de voz para dados.

Os negócios mais ameaçados serão aqueles que tentarem se proteger ignorando o poder de decisão dos clientes. É essencial ficar antenado com as mudanças, analisando continuamente as startups do setor ou de fora do setor. Os executivos do setor de telecomunicações entrevistados na pesquisa que gerou o relatório “Digital Vortex” disseram que sua ameaça maior, mais de 50%, vem de startups e não de empresas do setor ou de outro setor. Aliás, as ameaças disruptivas vindas de empresas do mesmo setor foram consideradas as menores. Qual a lição? Sair do casulo, de olhar apenas eventos específicos do setor e ficar de olho ao mundo à sua volta. Dali é que virão as disrupções!

Fonte: ComputerWorld.

Texto original:
http://computerworld.com.br/afinal-o-que-e-inovacao-disruptiva-e-como-ela-ainda-vai-afetar-sua-vida